terça-feira, 29 de junho de 2010

A Imprensa e a Ética

A recente polêmica entre o treinador da seleção brazuca de fut e o maior grupo de mídia do país reacendeu o debate sobre ética na imprensa de um modo geral; no caso, alguns veículos desse grupo haviam "plantado" uma notícia falsa como represária por terem perdido alguns privilégios concedidos anteriormente.

Ou seja, deturparam um preceito original do jornalismo ("a busca pela verdade") por conta de interesses contrariados. Uma frase do Dunga me chamou a atenção:

- "Vocês inventaram uma notícia, então são vocês que têm de dar satisfações aos seus leitores, assinantes e telespectadores pelas mentiras que foram divulgadas."

"Dar satisfações" - é exatamente esse ponto que eu vou abordar mais adiante. Infelizmente, há também na mídia de skate muita transmissão de informações mentirosas, tendenciosas ou distorcidas que atendem a interesses diversos que não sejam o foco principal de qualquer mídia e jornalista que se preza: a VERDADE. Não é a posse da verdade, e sim a busca por ela, que torna o jornalismo tão fascinante e necessário; além disso, é a verdade que sempre aparece e sempre prevalece no final das contas.

Esse post é sobre ÉTICA na imprensa de skate.

Antes, porém, um pequeno resumo da história das principais revistas especializadas no Brasil.

* ESQUEITE - A primeira publicação especializada no carrinho foi editada em 1977 pelo fotógrafo Sérgio Muniz e abordava principalmente o cenário do Rio de Janeiro. Além das matérias sobre skatistas e picos, recheadas de fotos p&b, tinham textos "científicos" associando o skate à física, biologia e até à geometria (!), o que a tornou complicada demais pros moleques da época. Só teve duas edições e serviu pra jogar a semente que em breve germinaria num produto de alcance nacional, no ano seguinte...



* BRASIL SKATE - O título "Momentos Radicais" e a foto colorida do Gini dando um ollie ("aéreo sem mãos") na rampa da DM Pepsi causaram um impacto no cenário de skate do Brasil de meados de 1978. Essa revista revelou talentos como os do perene Cesinha Chaves, além dos fotógrafos Klaus Mitteldorf e Roberto Price ("Rum"), e foi o primeiro veículo feito de skatistas pra skatistas. Focado nos cenários de Rio e SP, mas também abordando outros estados, a revista já procurava por aquilo que parece um mantra que dura até hoje - "mais picos, mais açào, mais skate". Só durou três edições por conta da 1a retração do reduzido mercado de skate da época, mas alguns de seus integrantes não se conformaram com isso por muito tempo...



* VISUAL ESPORTIVO - Editada pelo fotógrafo de surfe Nilton Barbosa, inspirada no modelo de revista norte-americana de boardsports "Action Now", a Visual tinha editorias especializadas em surfe, windsurfe, vôo livre e skate, os quatro esportes de ação com maior evidência naquele final dos anos 70 / início dos anos 80. Com ediçòes bimestrais, as poucas páginas de skate eram as únicas fontes de informação de alcance nacional; skatistas como o já citado Cesinha e Flávio Badenes foram os primeiros editores de skate, providenciando matérias sobre eventos e picos nacionais e internacionais e abrindo espaço pra novos talentos de texto e fotos, como Jair Borelli, Carlos Eduardo Falcon e esse que aqui tecla. Muito embora a publicação tenha durado até o final da década de 80, o skate ocupou suas páginas até o surgimento da primeira revista especializada em skate daquele período...



* OVERALL - Surgida em 1985, em meio às disputas do campeonato do Itaguará Country Clube daquele ano, foi um verdadeiro "soco na cara" dos skatistas ali presentes e que foram premiados com o número 0 da publicação. O melhor skatista de vert da época, Álvaro Porquê, estampava a capa de um produto que informou e influenciou muita gente, e revelou talentos de gente envolvida com a imprensa até hoje, como o editor Paulo Lima (da Trip) e mais César Gyrão, Fábio Bolota, Shin Shikuma, Cecília "Mãe" e Daniel Bourqui, além do Annibal Neto e sua precisa cobertura dos principais eventos internacionais. A revista também bancou a vinda de Tony Hawk e Lance Mountain ao país pra fazerem uma demo no Sea Club Overall Skate Show, que por muito tempo foi o padrão de eventos bem organizados no país. Durou até 1990 competindo pelo mercado com sua mais dura concorrente, a revista Yeah!.



* SKT NEWS - esse "fanzine industrial" editado pela mesma editora da Overall foi o primeiro produto de circulação dirigida do meio do skate no país, não sendo encontrado nas bancas de jornais e direcionado aos pontos de vendas e aos skatistas via correio. Longe de ser uma "mini-Overall", tinha conteúdo exclusivo em p&b e capa "colorizada", com uma tiragem invejável de cerca de 15.000 exemplares por edição. Produzido pela mesma equipe da O, era o lugar ideal praquelas matérias que não seriam publicadas na revista mas que não poderiam deixar de ser publicadas de forma alguma. Além disso, tinham outras direcionadas especialmente ao mercado de skate, fazendo da revistinha um produto único cujo espaço editorial permanece vago até os dias de hoje.



* YEAH! - Nascida no rastro da Overall, foi obra de dois empresários donos de uma marca de equipamentos de proteção e tênis que resolveram investir no skate - um deles, o saudoso Ricardo Widmanski (RIP). Essa revista uniu dois caras que publicavam material de skate em duas revistas de surfe - Paulo Anshowinhas (Fluir) e eu (Visual Esportivo) - e revelou gente da melhor qualidade como Hélio Greco (texto e fotos), André Sader (fotos) e Tai-Tai (o primeiro skatista-artista plástico), entre outros, além de também contar com as imagens de fotógrafos como Borelli e Falcon. O diferencial eram matérias que "filosofavam" sobre o skate ("Andar de skate ou morrer", "Por que skate?", "Andar de skate não é crime") escritas de acordo com as mudanças de um emergente mercado brazuca de então. Apesar de concorrente da Overall, o clima entre as duas revistas era de tanta amizade e cortesia que o Bolota até virou capa de uma das edições da Yeah - algo que seria impensável nos dias de hoje. Também durou até o início de 1990, quando ambas as publicaçòes independentes foram atropeladas por uma gigante...



* SKATIN' - Quando a editora Azul (braço de publicações infanto-juvenis da Abril) lançou uma revista de skate bimestral em meados de 1988, as concorrentes não levaram muita fé no produto que era direcionado a skatistas entre 10 e 15 anos - fugindo do público-alvo mais "maloqueiro" das outras revistas; um ano depois, o esquema de promoção e distribuição da gigante a colocou como líder do mercado. O editor Beto Issa (da galera de Guará) reuniu uma verdadeira equipe de all-stars da mídia de skate na época, como o Luiz Calado, Bourqui, Cândido Neto e eu, entre outros; a editora abriu os cofres e nos proporcionou tudo aquilo que precisássemos pra fazer o produto da melhor maneira possível: bons salários em dia, a melhor logística em nossas viagens (bons hotéis, boa comida e carros alugados), quantos filmes quiséssemos disparar... Na época, estávamos tão envolvidos com o produto e o cenário que não percebemos o quão predatória a revista era; só mesmo quando a Overall e a Yeah! deixaram de ser editadas é que nos demos conta disso. As atividades foram encerradas no final de 1990, quando o maldito "plano Collor" tornou inviável os investimentos no mercado de skate como um todo.



* TRIBO - Lembro como se fosse hoje: num raro evento de skate em 1991, uma conversa uniu o Gyrão, Bolota, Hélio, Jorge Kuge e eu. O Kuge mostrou um fanzine que eu fazia na época, o "JimeneZine", cuja capa trazia o título "Crise?" e cujo texto ironizava a crise que havia acabado com tudo o que envolvia o skate (mídia, fama, modas, hype), menos com o skate em si. Combinamos de "fazer alguma coisa a respeito", juntamos as merrecas de indenizações trabalhistas e poupanças e lançamos a TRIBO em setembro de 1991. Não se deixe enganar pelo que anda se divulgando por aí: o cenário conteporâneo do skate brasileiro pode ser definido como aT (antes da TRIBO) e dT (depois da TRIBO). TUDO o que surgiu no skate brasileiro veio no rastro da revista, que foi a injeção de ânimo numa época em que o cenário mundial estava "morto" da mesma forma, vitimado pela praga dos inlines. Ao longo da história, a galera da revista se envolveu em tudo o que se possa imaginar que envolvesse o skate - desde manter aceso o circuito da UBS nos anos 90 até organizar a primeira etapa do circuito mundial em nosso país, de ajudar a distribuir video-revistas nacionais de baixo orçamento a lançar skatistas, músicos e artistas pra serem conhecidos em todo o país. A lista de talentos revelados pela revista é imensa, mas destaco os hiper-criativos fotógrafos Ivan Shupikov, Rodrigo K-beça, Flávio Samelo e Héverton Ribeiro como alguns dos egressos das páginas tribais, além de um sem-número de redatores e artistas gráficos. A revista é a única especializada no mercado brasileiro a ser encontrada nas bancas nos dias de hoje, com quase 19 anos de mercado e rumando com passos cada vez mais fortes em direção ao futuro.



* 40 POLEGADAS - Um conceito genial numa revista adiante de seu tempo: assim pode ser definida a revista de bolso 40 Polegadas, especializada em longboards e surgida em 2000. Uma publicação gratuita e pequena abordando o imenso cenário de skates grandões que temos em nosso país, com foco principalmente nas sessions do que nos eventos, teve os 5.000 exemplares da edição 00 distribuídos entre SP e Rio - que evaporaram-se das skateshops e criaram muvuca nos eventos onde foram distribuídos. Eloy Figueiredo e Ramon Oliveira foram os responsáveis por essa simpática revistinha, que infelizmente só durou 10 edições impressas por conta da limitação do mercado brazuca de long e da falta de visão dos empresários de skate em nosso país. Pelo menos, suas matérias ainda continuaram a divulgar a cena de longboards no Brasil via rede por um bom tempo.



* VISTA - O subtítulo "skateboard art" define com precisão cirúrgica a proposta da publicação: divulgar o skate e as diversas formas de arte de uma maneira independente, eficiente e MUITO criativa. Gosto demais dessa publicação, pelo simples fato de que ela se propõe a ampliar o foco das áreas de interesse dos skatistas e pela liberdade que eles se deram na parte editorial. Surgida há menos de 5 anos das mãos dos irmãos Marten, a Vista é a porta-voz de uma série de talentos da nova geração comandados pelo Samelo que não tem "rabo preso" com ninguém: Cotinz, Alex Brandão, DJ Tamenpi e Gustavo Tesch, entre outros. O que eu acho melhor é que os caras são completamente desencanados da politicagem que envolve o mercado de skate, fazendo o produto do jeito que querem e não com a cara que o mercado exige. Um tremendo visual embalando informações na dose certa - ou, o espírito dos fanzines revivido em alto estilo.



Você deve estar pensando, "ta faltando revista nesse lista". Sim, você tem toda razão. E eu tenho as minhas razões pra não incluí-las nesse post.

Lembre-se que o tema aqui é ÉTICA.

Por conta disso, não posso citar uma revista surgida no final dos anos 80, produzida por leigos no assunto com o único intuito de "ganhar mercado" e que copiava descaradamente o material publicado por revistas estrangeiras - como se ninguém fosse perceber, aliás.

Da mesma forma, não posso incluir uma outra revista surgida alguns anos depois cujo primeiro objetivo - cobrir um cenário específico e mostrar outro ângulo pras informações a serem divulgadas - foi corrompido ao longo dos anos, quando passaram a distorcer a realidade pra se beneficiarem de todas as formas possíveis, a renegarem a história que fora escrita antes deles e a praticarem as mais baixas táticas comerciais já vivenciadas no meio do skate em toda a sua história no país.

Por isso mesmo, também não tenho como sequer citar uma outra revista surgida e extinta nesse século, cujo editorial teria de melhorar e MUITO pra ser péssimo, a qual tentou aliciar profissionais da concorrência com promessas descabidas (e jamais cumpridas) e que também praticava táticas comerciais dignas de empreendimentos mafiosos da pior espécie.

Não cito nomes porque não é nem necessário. Todas as histórias acima estão muito resumidas mas a essência é essa mesmo, por mais incrível que possa parecer a quem não acompanha o que envolve o meio do skate. Quanto mais eu sei de certas coisas, menos eu gostaria de saber...

São esses que eu não citei acima que devem satisfações aos seus leitores e internautas - não quem busca informar com ÉTICA em busca da verdade.

Aviso logo: a quem servir as carapuças, por favor sintam-se à vontade pra vestí-la e desfilarem por aí. E, se possível, não me encham o saco. Vocês é quem são os medíocres e faltam com a verdade, não eu.

Logo no post inaugural desse blog, eu deixei a missão que assumi enquanto jornalista bem clara pra que não restassem dúvidas:

Quem quiser por as mãos sobre tudo o que o skate significa pra dominar, enquadrar ou limitar será o meu inimigo, e será tratado como tal.

Não digam que eu não avisei antes.

"A verdade sempre prevalesce, e sempre aparece no fim das contas". O "final das contas" está cada vez mais próximo pra alguns, e a verdade aparecerá com certeza. Repito: não digam que eu não avisei antes.

FOTOS: SKATECULTURA e SKATECURIOSIDADE

Post original do blog SKATEBOARDING MILITANT

Por: Guto Jimenez

Fonte:www.campeonatosdeskate.com.br

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